Conversa em Dia com Antônio Ceron: “Compromisso do Psd com Moisés é a governabilidade”



 A disputa em que foi reeleito prefeito de Lages com apenas 56 votos de vantagem sobre a deputada federal Carmen Zanotto (Cidadania) terá sido, provavelmente, a última na trajetória política de Antonio Ceron (Psd). É o que diz o pessedista, que aos 76 anos de idade, que se diz grato com os dois mandatos de prefeito e os quatro de deputado estadual que conquistou com os votos da cidade e em que, segundo ele, chegou “como um Zé Ninguém” em 1976.

Vivendo o primeiro ano daquele que deve ser seu último mandato, Ceron mostra-se tranquilo. Avalia o cenário da acirrada reeleição, em que enfrentou adversários fortes como Carmen Zanotto e o ex-vereador Lucas Neves (Psl) e a própria pandemia do coronavírus. Falou também sobre o futuro do Psd e defendeu a possibilidade do lageano ex-governador Raimundo Colombo (Psd) ser candidato novamente ao governo do Estado. Sem, no entanto, deixar de reconhecer que o governador Carlos Moisés vive seu melhor momento no mandato. No início de setembro, o governador esteve em Lages, onde celebrou o repasse de R$ 35 milhões para obras de pavimentação que serão tocadas pela prefeitura.

Ceron entende que a relação entre o Psd e o governo Moisés é de apoio à governabilidade, sem vinculações eleitorais:

Em uma reunião que tivemos na Casa d’Agronômica, dos prefeitos do Psd e o presidente do partido, deputado estadual Milton Hobus, na frente do governador, disse o seguinte: o compromisso do Psd é dar governabilidade do governo Moisés até o dia 31 de dezembro de 2022. E o governador dá apoio aos prefeitos do Psd. Para o processo eleitoral do ano que vem, o Psd trabalha com a hipótese de ter candidatura.

Leia a íntegra da entrevista:

Eu vim em Lages no ano de 2019 e diziam que o senhor não seria candidato porque não tinha chance. Hoje, está reeleito. Como foi essa eleição?

A eleição é uma oportunidade muito importante para todo administrador. É a oportunidade de você colocar a avaliação da comunidade, de fato, no voto, sobre aquilo que você fez. Como eu nas costuras não tive habilidade suficiente para construir um sucessor, como eu tinha certeza absoluta que a gestão tinha sido positiva, eu coloquei o meu nome. E contra adversários fortíssimos, como o Lucas Neves (Psl), que era uma novidade, e a Carmen Zanotto (Cidadania), que é deputada federal e no momento da pandemia tinha uma visibilidade nacional muito grande. Então a decisão do eleitor foi por nossa continuidade. E, graças a Deus, por uma diferença pequena, fomos reeleitos.

Como foi ser candidato e prefeito durante uma pandemia?

Olha, você tem que ter muito discernimento, disposição. Tínhamos muitas limitações orçamentárias para implementar certas questões, limitações de comportamento também. E precisava cuidar para não usar a pandemia como cabo eleitoral, como conteúdo eleitoral. A gente procurou ser muito equilibrado nas questões da pandemia e deixar a política de lado, tratar como uma questão de saúde pública.

O senhor é do Psd, é de Lages. Isso nos remete a Raimundo Colombo (Psd), ex-governador de Santa Catarina. O senhor acha que ele pode ser, de novo, candidato a governador?

Pode sim, com toda certeza. É a oportunidade, inclusive, de colocar à disposição do eleitorado de Santa Catarina, a avaliação de sua gestão que eu entendo que foi positiva. Você não pode analisar as questões de hoje com as questões de oito, dez anos atrás, com as peculiaridades da época e as dificuldades que tinha também. Eu entendo que o partido tem três nomes hoje disputando: o Raimundo Colombo, Napoleão Bernardes e o João Rodrigues, que se manifestou também e está na disputa. E é importante que os partidos tenham o candidato ideal. Todo partido deveria, no primeiro turno, não ter coligações. A coligação é questão de segundo turno, aí você ajusta ideologicamente em questões partidárias, o melhor encaminhamento, mas no primeiro turno eu entendo que cada partido deveria colocar a discussão da sociedade o seu plano, por isso que eu defendo que o Psd tenha candidato a governador.

O senhor como prefeito de Lages, como o senhor vê a relação do lageano com o Raimundo Colombo? Ele conseguiria sair daqui com aquela votação exuberante que ele teve em outros momentos?

Eu acho que sim, porque mesmo quando foi candidato a senador e não foi eleito, em Lages ele teve boa avaliação. Então, entendo que em Lages ele teria sim o acompanhamento do eleitorado.

A gente vê que o atual governador Carlos Moisés gosta de fazer um contraponto com o ex-governador Raimundo Colombo, essa comparação. Ele esteve aqui em Lages na semana passada e anunciou repasses de recursos importantes para Lages, o senhor estava presente. Como o senhor avalia o governador Carlos Moisés?

Eu gosto de ser sincero nas minhas avaliações. Eu avalio que, nesse momento, o governador viabilizou o seu governo, administrativa e politicamente, e ele se credencia como um bom candidato à reeleição. Tanto que hoje, o Moisés, com a nova e a velha política, ele conseguiu exatamente encaixar o governo.

A nova política foi aposentada?

Olha, não existe nova, nem velha. Existe boa e ruim. Não tem como governador um Estado ou município sem um deputado, sem um vereador. Veja o caso do Bolsonaro, que abominava o Centrão e hoje o centrão está salvando. Então, na política, você precisa fazer política também. O nosso relacionamento com Moisés sempre foi do mais alto nível e ele nos ajudou com bons projetos em Lages. Eu repito: entendo que hoje ele viabilizou o seu governo para reeleição.

Esse suporte que o Moisés está tendo para viabilizar o seu governo, tem uma ajuda do Psd na Assembleia Legislativa, tem uma ajuda de Eron Giordani na Casa Civil, tem a articulação do Júlio Garcia nos bastidores. Como o senhor vê essa relação do Psd hoje com o Moisés, que prega uma candidatura própria, mas dá suporte para um adversário?

Eu vou repetir aqui bem rapidamente. Em uma reunião que tivemos na Casa d’Agronômica, dos prefeitos do Psd e o presidente do partido, deputado estadual Milton Hobus, na frente do governador, disse o seguinte: o compromisso do Psd é dar governabilidade do governo Moisés até o dia 31 de dezembro de 2022. E o governador dá apoio aos prefeitos do Psd. Para o processo eleitoral do ano que vem, o Psd trabalha com a hipótese de ter candidatura é só questão de ir ajustando ao longo do tempo.

O que o senhor quer deixar como legado quando completar seus oito anos de mandato?

Uma cidade organizada, uma cidade que readquiriu a credibilidade política. Recebi a avaliação, a análise, do Tribunal de Contas e do Ministério Público de Santa Catarina e, pelo quarto ano seguido, nós tivemos a aprovação das contas. Eu tenho um slogan da campanha para deputado, que é “respeito às pessoas e ao dinheiro público”, isso norteia a nossa questão. Queremos deixar Lages recuperada em todos os sentidos, numa crescente econômica, gerando oportunidade de renda, emprego. Inclusive, Lages é uma cidade turística, polo de uma região que está em ascensão no turismo como atividade econômica, é uma atividade atraente, revitalizando o centro, dando condições de melhor infraestrutura nos bairros da cidade, cuidando bem da saúde. Eu quero ser lembrado como um prefeito sério, trabalhador, que fez o bem para Lages.

O senhor pretende continuar disputando eleições depois de terminar esse mandato?

Não, eu tenho que ser grato ao eleitor e a Deus por ter sido reeleito com 75 anos. Eu tive meus problemas de saúde também. Mas sou grato a Deus por essa oportunidade. Eu cheguei em Lages como um Zé Ninguém e, graças ao lageano e evidentemente ao trabalho, nós conseguimos ser eleitos para dois mandatos nesta cidade que, politicamente, é a mais ferrenha de Santa Catarina, até porque nem Florianópolis e Joinville tiveram sete governadores e Lages teve essa oportunidade.

Lages é uma cidade interessante por sua história. Já foi a maior economia do estado e hoje tem um olhar muito forte para o passado e uma vontade de voltar a ser desse tamanho…

Não só vontade, é realidade. A economia de Lages está retornando. Nós tivemos, no passado, a madeira e a pecuária como os dois pilares econômicos da região, hoje o agronegócio está presente também. Nós temos a maior área, cultivável, de soja e milho de Santa Catarina e hoje nós já temos uma boa área plantada. A madeira ainda é forte economicamente, a pecuária também é. Nós somos um centro comercial também, da nossa região, haja vista os grandes investimentos que nós temos de atacadistas, de comerciantes que estão se instalando em Lages, e ninguém investe numa região que não tem um futuro promissor. Antigamente Lages era longe de tudo, hoje Lages está próxima de tudo. Nós somos o entroncamento da BR-116 com a BR-282, nós temos aeroporto que teve uns problemas, mas está às vésperas de voltar a funcionar com linhas diárias ligando Lages ao resto do país. Nós temos faculdades de excelente qualidade, nós temos centro de saúde compatível com os melhores de Santa Catarina. A gente é muito otimista. Não acredito que será a primeira de Santa Catarina, mas estará entre as sete ou oito cidades mais bem desenvolvidas economicamente e com melhor qualidade de vida. A gente não inveja o verão do litoral, mas nós ficamos muito felizes com o inverno da Serra Catarinense.


Sobre a foto em destaque:

Antônio Ceron me recebeu em seu gabinete na prefeitura de Lages. Foto: Paulo Marques, Divulgação.






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