QUAL É O TEU GRAU DE BANDIDAGEM?
Eu quero falar é de minha experiência como presidiário. Quem me conhece sabe de meu longo e profundo envolvimento com o álcool e até como um nobre conhecedor de outras drogas. Não defendo o uso de drogas ou proibição das drogas, estas fazem parte das escolhas que cada indivíduo faz na vida. Claro que com drogas se perde a confiança das pessoas e ao mesmo tempo que podemos não perder a confiança, podemos agredir quem mais amamos.
Em uma certa noite eu estava desiludido sentimentalmente. Procurei pelo meu amor e até por mulheres que apenas me satisfaziam sexualmente. Fui ignorado pelo meu grande amor e com a mulher que escolhi alguns minutos depois, acabei me perdendo dela, é que eu estava indo ao encontro dela e de tão triste acabei saindo para outro lado da cidade. Estava eu em um asfalto desconhecido de meu olhar naquele momento de plena dor sentimental.
O meu carro estava caindo aos pedaços e um barulho imenso fazia. Exposto na noite quente foi meu carro observado por uma equipe de jovens policiais militares. Me abordaram e logo viram o meu terrível estado de lágrimas internas. Disse eu, para aqueles novatos, que eu não estava bêbado, que eu apenas era um simples trabalhador e nada precisariam fazer para me entristecerem ainda mais.
De qualquer forma alegaram que eu estava bêbado e precisariam prender o meu carro. Prenderam o meu carro e eu de forma inteligente falei algumas palavras de desconforto para aqueles jovens da lei. Fui levado com algemas pelas mãos e pelos pés até a central da polícia civil, fui considerado um bandido pelas autoridades do momento. Chegando na delegacia, após algum tempo que fiquei dentro da cela algemado (o que é contra a lei), me chamaram para ligar para alguém da família ou algum advogado.
O homem da lei estipulou uma fiança de um salário mínimo. Me disseram que em no máximo três dias, mesmo sem eu pagar fiança, eu seria absolvido. Eu disse que não queria causar transtornos com minha mãe e para ninguém iria ligar. Fui conduzido até o presidio, me revistaram e logo me deram roupas de presidiário.
Fui colocado em uma cela com o nome de “C5” e dentro da mais feia situação de minha vida até aquele momento, permaneci das nove horas da manhã de um sábado, até vinte horas de uma terça, totalizando quatro dias e três noites. Não recebi talheres para me alimentar, não recebi toalha para tomar banho e recebi papel higiênico, escova de dente e pasta de dente, apenas na segunda. Juntamente com outros nove presos que juntos somavam mais de duzentos anos de prisão permaneci. Graças aos “bandidos” que me acompanhavam, usei os materiais que não haviam me disponibilizado na entrada.
Alguns agentes que me conduziram e no que percebi com outros presos, estavam fortemente com raiva, fiquei na dúvida se eram despreparados ou por ignorância. Na “C5” que em nada se diferenciava das outras celas, haviam baratas e formigas circulando livremente, haviam infiltrações de água pelas paredes e pelo teto. A comida de um dia foi de um ovo cozido, mais arroz e feijão. A capacidade da “C5” que era de duas pessoas foi aumentada sem legalidade para dez pessoas, sem contar que outras celas do mesmo tamanho continham até quinze presidiários.
Quanto ao período de sol, um nobre respeito, cerca de 4 horas diárias. O problema estava era no processo de recuperação emocional dos presos. Sem acesso algum aos livros que existem, sem bibliotecas, sem penas para escreverem, sem consultas psicológicas, sem acesso fácil aos médicos. Simplesmente aconteciam absurdos diante um ambiente que apenas piora o indivíduo que já é fraco diante os crimes que cometeu. Apenas sangue se refletia no olhar de cada presidiário.
Naquele triste período fiquei na dúvida se os bandidos estão na cadeia, na rua ou nos homens que eram para aplicar uma lei de transformação em cada detento. Aos poucos fui percebendo que cada agente prisional arrogante ou sem preparo, existe uma parcela de culpa. Em cada cidadão que não faz o seu bastante para transformar o sistema corrupto, existe uma parcela de culpa. Não tenho ideia do que é enviado para que os presos se mantenham mensalmente, o que sei é que vem menos de um salário mínimo para que cada um seja mantido.
Fui libertado das grades, não fui é libertado da dor em ver uma sociedade se afundando na criminalidade por culpa dela mesma. Enquanto os presos estão presos, os bandidos são aqueles que não fazem nada para recuperarem cada detento. Os que estão reincidentes fazem parte daqueles que sofreram para não aprenderem algo novo. Enquanto que um agente agredi de qualquer forma um detento, é o detento que faz renascer em seu coração um desejo de vingança.
Não busco pelo mundo perfeito, é que não sou perfeito. O que quero é que façam uma reflexão sobre a minha experiência pessoal ou se calem na minha presença. Não quero alimentar vagabundo ou ganhar dinheiro com minha experiência, apenas quero que seja a hora de você despertar. Chega da indiferença, toda criminalidade quer saber, qual é a tua parcela de culpa no crime?
Escritor Joacir Dal Sotto .'.
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